terça-feira, 25 de janeiro de 2011

“Os Pequenos Mundos do Edifício Yacoubian”

Debate da obra “Os Pequenos Mundos do Edifício Yacoubian” no Clube de Leitura

 
“From the very first page, Alaa Al Aswani’s Imarat Yacobian (The Yacobian Building) grabs you by the lapels and doesn’t let go, drawing you into its world via sympathetic, finely drawn characters that could have been lifted straight from the canvas of daily life.”  (Mona el-Ghobashy, Cairo Times, Junho de 2002)

Era cerca das 16.45 quando os Amigos do Clube começaram a chegar. Lá fora o frio enregelava os ossos dos mais corajosos, aqueles que enfrentaram as agruras do Inverno para virem discutir a obra de El Aswany connosco. Na nossa sala reinava um calor aconchegante e a voz indescritivelmente bela de Oum Kalthoum enchia-nos os corações de melancolia e saudades de um mundo distante, entre minaretes altaneiros e cheiro a cominhos. Até o Eça, sempre de pena afiada e incisiva, se viu desarmado face à beleza feérica do “doce canto, irritante e penetrante, e que ficará como uma eterna memória no meu cérebro, sem que nunca encontra as palavras que o possam definir?!”
Quando anunciámos a segunda reunião do Clube de Leitura começámos por dizer que o edifício Yacoubian, que dá título à obra de El Aswany, é um belíssimo edifício da Baixa do Cairo (Egipto). E ainda hoje o é. Apesar dos anos e das dores, dos maus-tratos e negligências, o Yacoubian mantém a sua altivez de velha aristocracia. Este autêntico organismo que vive e respira, que muda e sofre com as profundas alterações que o Egipto e a sua sociedade viveram no último meio século, abre-nos as portas da sua história para nos mostrar os homens e mulheres que o habitam.

A Mestra Alexandra Diez de Oliveira apresentou-nos esta obra e o seu autor, principiando precisamente pela dissecação da metáfora deste velho e gasto Yacoubian e das personagens e estereótipos sociais que nele nos são apresentados. Através de uma análise incisiva e pertinente, a nossa convidada conduziu-nos pelo labirinto das personagens e suas vicissitudes, acendendo o pavio para o debate que se seguiu.
E o debate foi aceso. Ninguém ficou indiferente aos problemas com que, afinal, muitos se identificaram. Depois de uma pequena pausa para retemperarmos forças com um chá quente e uns petiscos orientais, a discussão prosseguiu de forma acalorada. As opiniões dividiram-se. O Yacoubian é único, é o reflexo daquela sociedade, só ali tem o seu lugar? Ou o Yacoubian está por toda parte, pode ser um velho edifício das avenidas de Lisboa, do Rio de Janeiro ou de Buenos Aires, aqueles rostos carregam a familiaridade do nosso vizinho do lado? Numa conclusão todos foram unânimes: a miséria e a ignorância são um mal comum que aflige muitas sociedades e nele se revê a matriz da opressão e da exploração.
O debate foi muito produtivo. Foi extremamente enriquecedor poder ouvir e partilhar as muitas visões que surgiram do livro e das gentes que ele retrata, tantas quantos os participantes. A timidez vai-se vencendo e os Amigos do Clube sentem-se cada vez mais “em casa”.
Terminámos a reunião com a sensação de que ainda ali poderíamos ter ficado a debater pela noite fora. Os passos arrastam-se, mesmo em pé vamos conversando mais um pouco, trocando mais umas ideias e pensamentos, prolongando ao máximo a estadia. Faz-se tarde e daqui a dois meses há mais. É pena. Dois meses são, ainda, tanto tempo…

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